terça-feira, 22 de setembro de 2009

Homens em Tempos Sombrios



Enquanto escrevo, está em marcha o julgamento do ex-deputado Hildebrando Pascoal, acusado de torturar e assassinar o mecânico Agilson Santos Firmino em 3 de julho de 1996. A O que chamou a atenção da opinião pública da época (e ainda hoje) foi seu modus operandi: retalhou o homem usando uma motoserra.
De lá para cá, o noticiário não cessou de evidenciar o quanto o ser humano tem se superado em ampliar e aperfeiçoar o que de pior existe em cada um de nós, seja no âmbito privado (caso Richthofen, 2002) ou público (Guantánamo). Foi por casos assim, além de experiências pessoais, que me deti em frente à estante da livraria quando vi o título deste livro: Homens em Tempos Sombrios. A obra é da alemã Hannah Arendt. A edição da qual o trecho abaixo foi extraído é a publicada pela Companhia das Letras, série de bolso, que conta com um posfácio enriquecedor de Celso Lafer.

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“Mas o mundo e as pessoas que nele habitam não são a mesma coisa. O mundo está entre as pessoas, e esse espaço intermediário – muito mais do que os homens, ou mesmo o homem (como geralmente se pensa) – é hoje o objeto de maior interesse e revolta de mais evidência em quase todos os países do planeta. Mesmo onde o mundo está, ou é mantido, mais ou menos em ordem, o âmbito público perdeu o poder iluminador que originalmente fazia parte de sua natureza. Um número cada vez maior de pessoas nos países do mundo ocidental, o qual encarou desde o declínio do mundo antigo a liberdade em relação à política como uma das liberdades básicas, utiliza tal liberdade e se retira do mundo e de suas obrigações junto a ele. Essa retirada do mundo não prejudica necessariamente o indivíduo; ele pode inclusive cultivar grandes talentos ao ponto da genialidade e assim, através de um rodeio, ser novamente útil ao mundo. Mas, a cada uma dessas retiradas, ocorre uma perda quase demonstrável para o mundo; o que se perde é o espaço intermediário específico e geralmente insubstituível que teria se formado entre esse indivíduo e seus companheiros homens.”

(HOMENS EM TEMPOS SOMBRIOS, Pg.11)

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