segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Mais três passagens de JAZZ



"Nós nascemos mais ou menos na mesma época, você e eu", disse Violet. "Nós mulheres, você e eu. Me diga uma coisa de verdade. Não me diga só que eu sou adulta e devia saber. Não sei. Tenho cinqüenta anos e não sei nada. E então? Fico com ele? Eu quero, acho. Eu quero... bom, nem sempre... agora eu quero. Quero uma vida mais gorda.”
“Acorde. Gorda ou magra, você só tem uma. Esta.”
“Você também não sabe, não é?”
“Sei o bastante para saber como me comportar.”
“É isso? É só isso?”
“É só isso o quê?”
“Ah, deixe. Cadê as adultas? Somos nós?”
“Ah, mamãe”, Alice Manfred deixou escapar e cobriu a boca com a mão.

(JAZZ, pg 112)

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"O caçador dos caçadores, isso é o que ele era. Espero o quanto dá pra ser. Me ensinou duas lições que me guiaram a vida inteira. Uma era o segredo da gentileza com os brancos – eles tinham que sentir pena de alguma coisa para gostar dela. A outra – bom, esqueci."

(JAZZ, pg 124)

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"A mãe, porém, deu o toque final: as sobrancelhas perfeitamente imóveis, mas o olhar que lançou a Vera Louise quando a moça se levantou com esforço do chão era tão cheio de repulsa que a filha conseguia sentir o gosto da saliva amarga que se acumulava debaixo da língua da mãe, enchendo a parte interna das faces. Só a boa educação, a cuidadosa educação a impediram de cuspir. Nenhuma palavra, nesse minuto nem nunca mais, foi trocada entre elas. E a caixa de lingerie cheia de dinheiro que estava em cima do travesseiro de Vera na quarta-feira seguinte era, em sua generosidade, pesada de desprezo. Mais dinheiro do que qualquer um no mundo precisaria para passar sete meses ou quase longe de casa. Tanto dinheiro que o recado era inquestionável: morra ou viva se quiser, mas em outro lugar."

(JAZZ, pg 137)

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