quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A Música da Natureza



Ontem entramos na primavera. Sim, timidamente, é verdade: o tempo em São Paulo não convida a devaneios românticos, com direito a piquenique e passeios de charrete. Mas não deixemo-nos contaminar pelo clima feio e chuvoso. Rubem Alves diz assim, em A MÚSICA DA NATUREZA: "No meio do inverno eu finalmente aprendi que havia dentro de mim um verão invencível".

Aliás, é justamente deste livro que retiro o excerto de hoje. Considerei justa homenagem à primavera citar um livro que relaciona de forma tão lírica e cálida as coisas simples da natureza às questões complicadas dos homens. Rubem Alves é um pedagogo campinense cuja admiração, longa e terna, tenho nutrido já há muito tempo. É um grande prazer levá-lo a vocês aqui no Cor et Caput.

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"As árvores sabem que a única razão da vida é viver. Vivem para viver. Viver é bom. Raízes mergulhadas na terra, não fazem planos de viagem. Estão felizes onde estão. Enfrentam seca e chuva, noite e dia, chuva e calor, com silenciosa tranquilidade, sem acusar, sem lamentar. E morrem também tranquilas, sem medo. Ah! Como as pessoas seriam mais belas e felizes se fossem como as árvores. É possível que os estóicos e Espinosa tenham se tornado filósofos tomando lições com as árvores.

Olhando para as árvores, tive por um momento a idéia de que Deus é uma árvore a cuja sombra nós, crianças, brincamos e descansamos. Pura generosidade sem memória.

Acho que o verdadeiro, sobre São Francisco, não é que ele tenha pregado aos peixes e aos pássaros. A verdade é que ele ouviu o sermão das árvores. Por isso ficou tão manso, tão tranquilo. Ele tinha a beleza das árvores. Estava reconciliado com a vida. Então os pássaros fizeram ninhos nos seus galhos e os peixes comeram dos seus frutos que caíam na água..."

(A MÚSICA DA NATUREZA, Pg. 64)

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